QUANDO ME TORNEI MÃE CONHECI O QUE É VIVER
Lendo meu diário de adolescente, em muitas páginas eu
escrevo sobre meu filho, um menino que eu sonhava ter.
Quando eu engravidei pela primeira vez foi como um sonho se
realizando e crescendo dentro de mim, finalmente eu teria meu filho que se
chamaria Kawan, eu me orgulhava da minha barriga e quando meu filho começou a
mexer senti uma alegria sem palavras, mas um dia ele parou. Eu estava nos 6 mês
de gravidez quando fui ao médico preocupada, e lá eu tive a notícia que meu tão
sonhado bebê estava morto dentro de mim, senti uma dor indescritível, naquele
momento da minha vida meu bebê era meu único motivo de sorrir e ele não estava
mais lá. No dia 12 de Junho de 1990 eu fui internada e fiz um parto de um bebê
morto. Achei que fosse enlouquecer ,não aceitava sair da maternidade sem meu
filho nos braços como as outras mulheres, então sai com um boneco.
O motivo da perda do bebê foi o envelhecimento precoce da
placenta, por ser o primeiro filho fui submetida a vários exames e os
resultados foram meu pior pesadelo, o médico me informou que eu tenho um
problema onde meu organismo não reconhece o feto e por esse motivo eu poderia
não ser mãe. Esse foi o pior diagnóstico da minha vida.
Inconformada, engravidei novamente, uma gravidez cheia de
cuidados e medos. No dia 12 de Junho de 1991 eu estava indo a uma consulta de
rotina aos 6 meses de gestação, triste
pois lembrava da perda do Kawan. Após ter sido examinada, o médico me informou que
meu colo uterino estava dilatado, o que significava que eu estava perdendo meu
filho novamente, eu não acreditava que aquele pesadelo estava se repetindo, não
podia ser verdade, eu perdi completamente a razão com aquela notícia, foi então
que vendo meu visível desespero, o médico entrou em contato com a equipe da
Unicamp que aceitaram cuidar de mim. No mesmo dia fui encaminhada à Unicamp de
ambulância onde fui submetida a uma cirurgia de emergência chamada cerclagem,
embora os médicos não tenham me garantido que conseguiriam salvar meu bebê, a
cirurgia foi um sucesso.
Minha vida resumia-se em repouso absoluto e consultas 3
vezes por semana na Unicamp, onde eu passava por vários exames como ultrassonografia,
medição do sangue na placenta, medição de pressão entre outros, mas eu não me
importava com todos os exames porque eu sentia meu bebê dentro de mim crescendo,
eu conversava o tempo todo com ele, pedia para ele ser forte e lutar junto comigo e
juntos íamos vencer. Com todos os cuidados e empenho dos profissionais da Unicamp
minha gravidez estava evoluindo bem e o parto estava previsto para o dia 24 de
Setembro. No dia 03 de Setembro fui para mais uma bateria de exames lembrando
que esta data seria o dia do nascimento do bebe que faleceu no ano anterior,
pra minha surpresa e para surpresa de toda a equipe médica meu filho adiantou
seu nascimento e eu estava entrando em trabalho de parto, neste momento eu
decidi que meu filho, até então sem nome, chamaria Kawan , o mesmo nome daquele
bebe que eu perdera um ano atrás, pois para mim ele havia voltado. Minha
internação foi feita às pressas, fizeram todos os procedimentos necessários e
após inúmeras contrações me levaram para a sala de parto, me aplicaram
anestesia e aguardamos o momento tão esperado, a chegada de Kawan. No momento
em que meu filho estava nascendo, dentro da sala e fora dela, estavam a maioria
dos médicos e enfermeiros da Unicamp que lutaram comigo e com meu filho para
que aquele momento estivesse acontecendo e quando Kawan começou a nascer eles cantaram
a música musica vamos brincar de índio em homenagem ao meu filho, este sem
dúvidas alguma foi o melhor momento da minha vida, sentir o tão sonhado filho
em meus braços não tenho palavras para descrever a emoção. Kawan foi levado
para exames e eu teria que passar pelos procedimentos pós parto, me aplicaram
um medicamento chamado HISOCEL,
neste momento meu corpo começou a tremer, minha visão ficou turva, eu não
conseguia me mexer, era um choque anafilático, enquanto eu via vultos dos
especialistas correndo em minha volta para reverter o quadro, eu só pensava que
estava morrendo e que meu pequeno Kawan ia ficar sem mãe, aquilo não era justo.
Felizmente conseguiram reverter o quadro e a primeira coisa que eu fiz quando
consegui recuperar minha fala foi pedir para ver meu filho, o que fizeram imediatamente.
Anos depois eu engravidei
mais 2 vezes sem sucesso, então resolvi aceitar meu problema e não engravidar
mais, já me sentia abençoada por ter meu filho.
O nascimento do meu filho
me trouxe uma razão pra viver, me trouxe esperanças e forças para lutar, todas
as vezes que eu me sentia fraca e achava que não suportaria as dificuldades da
vida era em seus olhos que eu me fortificava, hoje, apesar da pouca idade, ele
já é um homem maduro, responsável e consciente de seus atos, continua sendo
minha fortaleza, pois sempre que preciso de uma palavra amiga é nele que eu
busco, ele me salvou a vida, ele é meu melhor amigo, ele é meu motivo de
orgulho, eu não sou somente sua mãe e amiga, mas também sou sua fã.
Quando eu paro pra pensar
o que ser mãe significa, para mim é algo tão sagrado que transcende a este plano,
ser mãe pra mim significa luz, ser mãe pra mim significa salvação, ser mãe pra
mim significa vida, quando eu dei vida ao meu filho eu comecei a viver.
Um comentário:
Oi Katia sou a Donata do grupo GRAM e achei lindo o seu relato, concordo com vc na descrição do que é ser mãe, e seu o que somos capazes de aguentar por um filho amado. Um beijo amiga e conte com esta singela admiradora
Postar um comentário